E o que a gente ouve não é:
“Eu te amo tanto quanto posso dentro das limitações dessa relação e desse meu momento de vida, dentro das minhas próprias limitações, dos meus medos e dos meus fechamentos.”
A gente ouve:
“ Eu te amo totalmente, para sempre, sem que nada, antes ou depois do nosso encontro, supere esse sentimento.”
Ele fala de si e nós ouvimos o cosmos. Ele fala do hoje, e nós entendemos o eterno.
A culpa é nossa, então, por ouvirmos errado? Não. Ele também, ao falar dentro da sua pequena dimensão humana, está se iludindo com as grandes medidas. Ao dizer “eu te amo”, assume o papel do grande amante, torna-se o amor absoluto, encarnado.
(...) O amor que é absoluto para mim pode não sê-lo para a pessoa à qual é dirigido. E isso porque, enquanto minha emoção amorosa me preenche por inteiro, dando-me a impressão de que não existe mais possibilidade de amor além dela, o objeto do meu amor, que, por razões pessoais, não se sente por ele preenchido, pode considerá-lo insuficiente e, como tal, bem aquém do absoluto.
(...) Em termos literários, um grande amor pode existir mesmo sem resposta; o amante suspira na sombra, se acaba a paixão, sem que o objeto dos seus sonhos lhe dirija mais que um olhar. Mas na vida real o que queremos para a que o amor se complete física e afetivamente, é que o outro também nos ame. E achamos que nosso amor só se transformará realmente num amor absoluto, na medida em que a intensidade do amor do outro for alma gêmea idêntica da nossa intensidade.
O amor não é mensurável. A duras penas sabemos do nosso próprio amor, quanto mais daquele do outro. O que costumamos fazer para resolver o impasse é medir o amor do outro usando o nosso próprio amor como metro. Ele diz “eu te amo”. Nós respondemos “ eu também te amo. E deduzimos que as duas coisas são idênticas e que aquele amor, como a vida e a morte, representa um todo, como elas indissolúvel, e, portanto, como elas, absoluto. Está demonstrado o teorema, como se queria.
Um perigoso teorema, na verdade. Porque, em cima dele e da sua inconsistência, começamos a construir justamente aquele castelo que queríamos mais sólido e mais seguro.
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